- Daniel Takata
A regra do gol qualificado afeta o número de gols marcados em campeonatos mata-mata?
Hoje, em Porto Alegre, será realizado o segundo jogo da final da Copa do Brasil deste ano, entre Internacional e Athletico Paranaense.
Como o time do Paraná venceu por 1 a 0 em Curitiba, leva o título em caso de empate - e, claro, também caso vença o jogo.
Vitória por diferença de dois ou mais gols dá o troféu ao Inter.
E vitória do Colorado por um gol de diferença leva a decisão do título para os pênaltis.

Mas não é da final que esse post trata. E sim sobre a regra do gol qualificado.
É uma regra vigente em muitos campeonatos mata-mata pelo mundo, incluindo Taça Libertadores da América e Liga dos Campeões da Europa.
Nos jogos de ida e volta, caso haja empate entre as duas equipes em número de pontos e saldo de gols, avança de fase o time que marcar mais gols no estádio do adversário - o chamado gol qualificado.
A decisão só vai para eventuais prorrogação e pênaltis se até o número de gols marcados no estádio do adversário for o mesmo para os dois times.
Um dos objetivos da regra, a princípio, seria fazer com que o time visitante buscasse o gol, e não ficar apenas se defendendo em jogos fora de casa.
A Copa do Brasil utilizou o gol qualificado como critério de desempate por muito tempo, até 2017.
Nas edições de 2018 e 2019, não mais.
O que quer dizer que se, em um confronto, duas equipes empatam em número de pontos e saldo de gols, a decisão agora vai para os pênaltis, independente do número de gols que cada uma marcou fora de casa.
Tal mudança pode ter alterado a forma como as equipes se comportam, principalmente em jogos como visitantes.
E será que isso influenciou no número de gols marcados?
Para tal análise, considerei médias de gols das Copas do Brasil de 2016, 2017, 2018 e 2019.
Ou seja, duas edições com a regra do gol qualificado (2016 e 2017) e duas sem (2018 e 2019).
(além de ler o texto até o fim, confiram também a análise sobre o tema no vídeo do canal do Esportístico, no YouTube.)
Considerei somente confrontos a partir da fase de oitavas-de-final, que, em geral, são mais equilibrados, por ser a fase em que os times brasileiros que disputam a Taça Libertadores começam a jogar - nas fases anteriores, há muitos confrontos de times muitos discrepantes, o que pode afetar muito as médias de gols.
Também não considerei as finais na análise, pelo simples fato de que, quando havia a regra do gol qualificado, na final a regra não era considerada. Tanto que em 2017 Flamengo e Cruzeiro empataram em 1 a 1 no Rio de Janeiro e 0 a 0 em Belo Horizonte, resultados que, pela regra do gol qualificado, dariam o título ao time mineiro. Mas o título foi decidido nos pênaltis. Vai entender...

As médias de gols, então, foram as seguintes:
2016: 2,46
2017: 2,36
2018: 1,82
2019: 1,68
Observa-se uma queda acentuada nas últimas duas edições. Considerando as edições agrupadas, temos:
2016-2017: 2,41
2018-2019: 1,75
O que representa uma queda de 38% na média de gols. Para efeito de comparação, nos Campeonatos Brasileiros de 2016-2017, a média de gols foi de 2,42, e nos de 2018-2019 (até o presente momento), de 2,22, uma queda de 9%.
Mas será que a queda de 2,41 para 1,75 é fruto somente de uma variação natural? Ou realmente existe o que chamamos de diferença estatística significativa?
Para fazer essa análise, utilizamos o que chamamos de teste de hipótese - neste caso, o teste t-Student.
É um teste de diferença de médias, e o resultado é uma probabilidade chamada de p-valor. Neste caso, o valor é de aproximadamente 2,5%.
E qual é seu significado? É simples. Assumindo que a hipótese de que a média de gols com a regra do gol qualificado é igual à média de gols sem a regra do gol qualificado, o p-valor é a probabilidade de observarmos um resultado como o obtido, ou ainda mais extremo.
Como a probabilidade, 2,5%, é baixa, então, sob a hipótese assumida, o resultado observado é um tanto quanto improvável, o que nos faz desconfiar da veracidade da hipótese. Para esse valor, em geral tendemos a dizer que temos evidência contra a hipótese de igualdade, em favor da hipótese de que a média de gols diminuiu.
É claro que pode haver muitos fatores que ocasionem a queda na média de gols. É muito difícil estabelecer uma relação de causa e efeito. Simplesmente através dessa análise, não podemos dizer que o fim da regra do gol qualificado foi a responsável pela diminuição no número de gols na Copa do Brasil. Isso é algo que os especialistas e analistas do futebol devem debater.
O que podemos afirmar é que, independente do motivo, existe evidência estatística significante de que a média de gols na Copa do Brasil caiu.
Não se esqueça de também conferir a análise sobre o tema no vídeo do canal do Esportístico, no YouTube.