- Daniel Takata
O revezamento 4x100m medley misto na natação e suas estratégias

Revezamentos sempre são uma atração a parte em competições de natação.
É a hora em que o esporte individual vira coletivo, e não é raro vermos nadadores superarem seus desempenhos das provas individuais em prol dos companheiros.
Não à toa, algumas das provas mais épicas de Jogos Olímpicos são revezamentos.
Como não lembrar do revezamento 4x100m livre masculino da Olimpíada de Pequim em 2008, considerado o maior da história?
Pensando nisso, em 2013, a FINA (Federação Internacional de Natação) introduziu os revezamentos mistos nas competições oficiais.
Ou seja, os revezamentos devem ser compostos por dois homens e duas mulheres.
Em Mundiais de Esportes Aquáticos, são disputados dois revezamentos mistos: 4x100m livre e 4x100m medley (quatro estilos: costas, peito, borboleta e livre).
Em Mundiais de piscina curta, há a adição das versões 4x50m.
No Mundial de Gwangju, na Coreia do Sul, que está sendo realizado esta semana, o 4x100m medley misto já foi disputado, com vitória da Austrália sobre a favorita equipe dos Estados Unidos.
E é justamente esse revezamento que analisarei neste texto.
Até porque essa prova estará presente, pela primeira vez, em Jogos Olímpicos a partir da próxima edição, Tóquio-2020.
Como é uma prova que envolve os quatro estilos, qual seria a melhor estratégia para alocar os nadadores? Seria melhor um homem no nado costas? Ou uma mulher? E no nado peito?
Apresentarei a análise a seguir. Também postei um vídeo no canal Esportístico do YouTube com explicações mais detalhadas, que segue abaixo.
(não analisarei o revezamento 4x100m livre misto aqui, pois nessa prova não há a menor discussão em relação a estratégia: todas as equipes colocam dois homens nas primeiras posições e duas mulheres nas últimas - inclusive isso faz com que a prova perca um pouco o caráter de "misto", já que a primeira metade é nadada inteira por homens e a segunda por mulheres, não havendo alternância de gêneros e de posições devido a esse fator)
O 4x100m medley misto foi disputado em três Mundiais de Esportes Aquáticos até hoje: 2015, 2017 e 2019.
Observem como os gêneros foram distribuídos para cada nado, para as oito equipes finalistas de cada edição:
2015
7 de 8 equipes utilizaram homens no nado costas
6 de 8 equipes utilizaram homens no nado peito
2 de 8 equipes utilizaram homens no nado borboleta
1 de 8 equipe utilizou homem no nado livre
2017
5 de 8 equipes utilizaram homens no nado costas
7 de 8 equipes utilizaram homens no nado peito
2 de 8 equipes utilizaram homens no nado borboleta
2 de 8 equipes utilizaram homens no nado livre
2019
4 de 8 equipes utilizaram homens no nado costas
7 de 8 equipes utilizaram homens no nado peito
4 de 8 equipes utilizaram homens no nado borboleta
1 de 8 equipes utilizaram homens no nado livre

Como se vê, o que mais se faz é utilizar homens no nado peito e mulheres no nado livre. No costas e no borboleta, a distribuição é mais equilibrada. Mas a tendência é de que no costas se usem homens e no borboleta, mulheres.
Isso porque, em geral a diferença de tempos entre homens e mulheres, em termos absolutos, é maior no nado peito, que é o nado mais lento. Depois, vem o nado costas. A seguir, borboleta e livre.
Logo, o panorama geral indica que a estratégia mais utilizada realmente deva ser: homem no costas, homem no peito, mulher no borboleta e mulher no livre.
E que é, realmente, a distribuição mais utilizada pelas equipes.
Claro que a alocação dos nadadores depende das características dos mesmos. Sua equipe pode ter uma nadadora fenomenal de peito, que faça valer a pena sua colocação no estilo em favor de um homem.
É o caso da equipe dos Estados Unidos, campeã mundial em 2017 com recorde mundial, com Lilly King nadando a parcial de peito.

Mas é uma exceção. Para a maioria das equipes, iremos observar dois homens abrindo e duas mulheres fechando.
Exatamente como ocorre no 4x100m livre misto.
Por isso, fica aqui a sugestão: por que não mudar a ordem dos nados no revezamento para a seguinte: costas, borboleta, peito e livre?
Dessa forma, haveria mais mistura entre os gêneros na água, e consequentemente mais alternância na liderança e em outras posições, e, dessa forma, mais emoção - que é o principal mote da disputa da prova.
Seira uma mudança simples, fácil de implementar, e que poderia trazer grandes benefícios para a prova.
Poderia ser testada em competições menores, e, caso a resposta seja positiva, aí sim ser implementada em Mundiais e Olimpíadas.
Que acham?
Não se esqueçam de também conferir a análise em vídeo no canal Esportístico, no YouTube.